sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Senzala oprimida, feitor violento. Quem é essa mulher ?

Paloma Gomes

Em 1981 foi lançada a canção Angélica, dos compositores Chico Buarque e Miltinho. As rimas tão delicadamente sobrepostas retratam a busca incansável de Zuzu Angel por seu filho Stuart Angel Jones. Stuart, ativista político, desapareceu para nunca mais ser encontrado, após ser preso por militares durante a ditadura.

A coragem de Zuzu ainda hoje ressurge em cada mãe que busca esclarecimentos sobre as mortes e desaparecimentos de seus filhos, vítimas de um infeliz e fatal encontro com agentes do Estado. Esta também é a história de Elaine Soares.

No dia 12 de outubro de 2016, o filho de Elaine, Thiago Soares, à época com 22 anos, foi ao Parque da Cidade, em Brasília, participar de uma festa em comemoração ao dia das crianças.


O local, que ficou conhecido pela canção Eduardo e Mônica de Renato Russo, foi um dos últimos lugares em que Thiago foi visto com sua a integridade física preservada antes da abordagem realizada por policiais militares do Distrito Federal. Deste encontro se sabe pouco e Elaine, com muita coragem, tem lutado dia a dia para descobrir. É o mínimo que se espera das autoridades públicas.


Uma das testemunhas, um estudante de direito, afirma ter visto Tiago sendo espancado por vários policiais e jogado no porta malas de uma viatura da polícia. Após a abordagem policial, Thiago ficou internado 15 dias na UTI do Hospital de Base de Brasília com traumatismo craniano, vindo a falecer no dia 27 de outubro de 2016. Neste período, Elaine o visitava todos os dias, cantava canções para embalá-lo e rezava confiante em sua recuperação.


Foi dela a primeira voz a indagar publicamente as autoridades públicas e exigir esclarecimentos sobre o que aconteceu com o Thiago. Apesar de intimidações, de versões que tentam atacar a sua imagem e a de seu filho, Elaine segue em busca de respostas e da verdade.


Essa mulher, uma mulher como tantas outras mães, não se resigna com apenas uma versão do fato. Exige a apuração de todas as versões com o mesmo empenho e dedicação. Exige, por ser este um dever do Estado. Não se trata da não aceitação da morte, mas sim do exercício de um direito, o direito fundamental de acesso à informação.


Afinal, quem é essa mulher? Quem são essas mulheres?


É Zuzu, é Elaine, são as mães da Praça de Maio, as mães do Massacre de Cabula, são todas as mães que não poderão passar o dia das crianças com seus filhos.



Quem é essa mulher

Que canta sempre esse estribilho

Só queria embalar meu filho

Que mora na escuridão do mar



♦ Paloma Gomes é advogada e integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares e- RENAP


Caros Amigos 

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