terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Imprensa Livre e a crise mundial da democracia


Francisco Paes de Barros 

Em 15 de julho de 1971, o presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, comunicou ao povo americano ter aceitado o convite do primeiro-ministro Chu Em-Lai para uma visita oficial à China. Foi a primeira visita de um chefe de Estado dos Estados Unidos ao país asiático. Passados 56 anos, Estados Unidos e China são as duas maiores potências econômicas do mundo, mantêm intensa relações comerciais e são concorrentes na disputa por outros mercados.




A China vive sob um regime totalitário. A partir de 1978, com as reformas econômicas, adotou a “economia socialista de mercado”, capitalismo de Estado. Sua população é de 1 bilhão e 400 milhões de pessoas, das quais 43 milhões vivem abaixo do nível de pobreza.



Os Estados Unidos são um país historicamente capitalista e democrático. Os anos 1950 e 1960 foram os anos de ouro da economia norte-americana, época marcada pela produção e pelo emprego. O trabalhador era reconhecido. O setor financeiro tinha performance discreta. As grandes fortunas pagavam altos impostos ajudando o governo a investir, principalmente na educação e na saúde, beneficiando os pobres.



A partir da década de 70, principalmente no governo Ronald Reagan (1981-1989), os cidadãos mais ricos e os grandes conglomerados foram privilegiados pela política econômica. O trabalhador virou gente de nível inferior. A produção caiu e a especulação financeira cresceu muito, levando ao colapso de 2008. A população dos Estados Unidos é de aproximadamente 323 milhões de pessoas, das quais 40 milhões vivem abaixo do nível de pobreza.



No mundo de capitalismo globalizado, China e Estados Unidos são peças chaves do Livre-Comércio, movido por um consumismo exacerbado e de forte influência na economia mundial. A economia chinesa tem conseguido diminuir espetacularmente o número de pessoas que vivem abaixo do nível de pobreza. Foi um feito notável, reconhecido mundialmente. Não obstante, os desafios que a economia chinesa tem pela frente são colossais.



Talvez, em razão de uma eventual guerra comercial contra a China, o atual presidente americano, Donald Trump, vem realizando a maior mudança na economia do país dos últimos 70 anos. Diminuiu os impostos dos mais ricos e deu grande incentivo aos conglomerados e ao setor financeiro. Os mais pobres estão mais pobres, acentuou-se a desigualdade. Trump concentrou a renda e o poder.



China e Estados Unidos entraram em 2018 travando uma acirrada competição comercial. O governo chinês reclama que o protecionismo defendido por Trump ameaça o sistema multilateral de comércio. Já o governo americano argumenta que, entre os grandes países, a China é o mais protecionista.



O governo Trump relega a um segundo plano os acordos multilaterais. Os gastos dos consumidores norte-americanos respondem por aproximadamente 70% do PIB dos Estados Unidos. Trump quer usar o poder econômico e militar dos Estados Unidos para conseguir significativas vantagens na balança comercial. Em 2016, sob o governo Barack Obama, o déficit na balança comercial foi de 502 bilhões de dólares.



O governo Trump se preocupa exclusivamente com o seu país. Para o presidente não interessa se o mundo está dividido entre as pessoas que consomem e as que não consomem – os mais pobres, que “são zero econômico”.



A sociedade de consumo desenfreado sofre de um abalo emocional que se manifesta no desejo incontrolável de “comprar a felicidade”. Tal sociedade vai se tornando individualista e despolitizada, deixando de exercer sua cidadania. Uma realidade: nas últimas eleições tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá e na Europa Ocidental, aproximadamente 40% dos eleitores não comparecem para votar.



A propósito, tem razão o professor e escritor Jung Mo Sung, que definiu: “A identidade pessoal está hoje profundamente ligada ao consumo. Para ser reconhecido como ser, é preciso ter determinados bens de consumo. Quando alguém busca consumir a mesma mercadoria consumida pelos ‘modelos’ da sociedade, não está buscando simplesmente ter algo, mas sim está buscando ‘ser’ alguém.” (Sujeito e Sociedades Complexas – Editora Vozes).



A sociedade de consumo exacerbado tem bilhões de seguidores em países democráticos, autoritários e totalitários. Por oportuno, lembro que, conforme o Relatório Mundial para a Natureza, do WWF (World Wildlife Fund), “a humanidade está consumindo mais do que a Terra é capaz de repor, gerando consequências irreversíveis ao meio ambiente.”



Felizmente existe a Imprensa Livre, que segue o caminho da solidariedade, da liberdade, do progresso e da fraternidade. Ela está atenta aos quatro perigos iminentes que ameaçam a democracia: o avanço militar e econômico da China; a política econômica e protecionista do atual governo americano, aliada à maneira pela qual o presidente Trump tem tratado a imprensa do país; a despolitização provocada pelo consumismo exacerbado; e o fato de, de acordo com a ONU, mais de 900 milhões de pessoas viverem na extrema pobreza.



A Imprensa Livre provoca o senso crítico da sociedade de consumo. Prega uma convivência fraterna, de ternura e de solidariedade com os mais pobres, que se sentem jogados e esquecidos no anonimato. A Imprensa Livre é o oxigênio da democracia por onde o povo respira esperança.



A Imprensa Livre é um instrumento de inclusão social. Ela está comprometida com os direitos humanos: busca resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a liberdade e a dignidade da pessoa humana. Conciliar a liberdade individual e o funcionamento das instituições. Esse testemunho de conduta lhe permite participar da construção de uma nova ordem mundial: econômica, jurídica e política.



É preciso ajudar a humanizar a humanidade. O contrário da humanidade é a brutalidade. É a hora e a vez da globalização da solidariedade.



Francisco Paes de Barros é radialista

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